Arte do Indagar

A mancha é a expressão fundamental do artista plástico Paulo Pitombo. É a partir do que ela sugere que ele pode conquistar seu espaço visual, seja com a temática de céus, peixes ou tartarugas. De fato, o assunto em si mesmo fica em segundo plano perante as transparências que emanam em alguns detalhes de cada um deles.

Bem mais importante que o desenvolvimento de algum tema específico, a arte se realiza na maneira como o artista se comporta perante o suporte e o material utilizados. Isso significa estabelecer uma relação profunda entre o que se vê e o que se deseja construir.

A obra resultante expressa uma aprendizagem e um conhecimento visual que interagem de modo dialético. Dentro do peixe, por exemplo, podem existir momentos de encantamento, assim como no entorno da tartaruga vista de baixo para cima, numa visão possível apenas a um mergulhador ou a outro ser aquático.

A técnica e a sensibilidade se harmonizam para atingir um falar do mundo em que a imagem criada seja uma lírica declaração de princípios, não uma verdade absoluta. A magia da arte está em sua capacidade de gerar perguntas e, nesse aspecto, os trabalhos de Paulo Pitombo, seja em aquarela ou têmpera, tem muito a indagar.

Oscar D’Ambrosio, jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil).